sexta-feira, 21 de outubro de 2011

108º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras

Apesar de cansados devido ao elevado número de incêndios que têm deflagrado no concelho nas últimas semanas, os Bombeiros Voluntários de Torres Vedras (BVTV) trajaram de gala no passado dia 15 e assinalaram em ambiente de festa o 108º aniversário da sua associação.

A corporação está a atravessar um dos períodos mais difíceis de sempre, segundo Fernando Barão, que fala em cerca de 15 mil transportes de doentes e oito mil saídas de emergência pré-hospitalar, a que se juntam mais de 400 incêndios só até à data.

“Temos tido dias muito complicados, mas sempre com uma capacidade de resposta fora do comum”, sublinhou Fernando Barão, enaltecendo o trabalho dos homens e das mulheres daquela casa, dos quais tem “o maior orgulho. A nossa capacidade de mobilização foi sempre a nossa mística”, afirmou o comandante, que deu como exemplo a presença no terreno de oito veículos de combate a incêndios e três auto-tanques em pleno dia de trabalho, ou como através de um sms conseguiram rapidamente dar resposta a um acidente rodoviário, numa altura em que se combatiam cinco incêndios em simultâneo.

No entanto, tanto trabalho acaba por se revelar igualmente num aumento de despesas, nomeadamente com o desgaste de materiais e viaturas. “Vamos já com 30 mil euros de prejuízos”, sublinhou Fernando Barão.

O dinheiro, aliás, a falta dele, foi um dos assuntos presentes em quase todos os discursos dos elementos que compuseram a mesa da sessão solene daquele aniversário.

Alfredo Candeias, presidente da assembleia geral dos BVTV, considera que em tempos de cortes financeiros é preciso relembrar que “a associação está a cumprir, de forma abnegada e voluntária, com custos e sem receitas, um papel de protecção das população, que cabe ao Estado assegurar”. Por isso, “façam-se reformas, mas não se faça perder a operacionalidade aos bombeiros, eles são imprescindíveis”, afirmou.

José Correia, presidente da direcção da associação, afirmou por sua vez que “não estamos à espera de receber dinheiro das entidades públicas”, mas acredita que “vamos encontrar soluções para honrar os nossos compromissos e manter o nível operacional o mais elevado possível”.

Contudo, aquele responsável defende que “a missão, o enquadramento e a gestão destas associações vai ter de ser revisto, senão vão ter problemas futuros”, afirmou.

Pedro Araújo, da Federação dos Bombeiros do Distrito de Lisboa, acrescentou que os problemas já começaram, “há cada vez mais associações à beira da rutura financeira, para não dizer à beira da falência pura e dura”, afirmou.

Segundo aquele responsável, “os sucessivos governos nada mais fizeram que diminuir os apoios que em 2007 eram um direito das associações”. E destacou a mais recente medida de “redução da comparticipação de €7,50 para €1,50 por deslocação de doente em percurso até 15km, recusando-se ainda o Ministério da Saúde a efectuar o pagamento do transporte do doente de regresso a casa, passando as associações a assumir esse custo“, e ainda o corte da isenção das taxas moderadoras, “um dos poucos benefícios dos bombeiros”, entre outras situações.

Pedro Araújo diz que é preciso “agir para que quem de direito olhe para estas associações com respeito e com a importância que têm no contexto da protecção e do socorro pois, caso contrário, o socorro em Portugal ficará inevitavelmente comprometido e o retrocesso aos anos 70/80 será uma dura realidade“, concluiu. Num dos seus últimos actos oficiais como presidente da Liga dos Bombeiros, Duarte Caldeira afirmou que hoje “é necessário evoluir para além das reivindicações aos governos. É preciso melhorar modelos de organização, não confundir voluntariado com amadorismo, e ser profissional na acção porque os recursos são escassos e a tarefa é de responsabilidade”, afirmou.

Duarte Caldeira defendeu uma reflexão sobre a instituição bombeiros e novas formas de captar voluntários, uma componente que considera essencial. “Abdicar dos voluntários é abdicar da nossa identidade”, e há locais onde isso já acontece, lamentou.

Duarte Caldeira atribuiu entretanto aos bombeiros a Fénix de honra, uma das distinções mais altas da Liga.

Carlos Miguel, presidente da Câmara Municipal, decidiu em cima da hora substituir um discurso sobre muitas despesas e poucos recursos por um apelo à criatividade. “O dinheiro não está nos bolsos, tem de estar na nossa inteligência. É preciso encontrar outras fórmulas para ultrapassar o problema e sermos cada vez mais unidos na defesa dos nossos interesses”, frisou. O autarca considera um investimento o apoio que a Câmara atribui aos bombeiros, cerca de 416 mil euros anuais, e que paga uma parte substancial das equipas de intervenção permanente.

É por este e por outros serviços essenciais que as câmaras prestam aos seus municípios que o autarca defende que “não se podem reduzir dinheiros às autarquias. Hoje todos olham para o dinheiro e não para o serviço”, lamentou Carlos Miguel, fazendo saber que “temos feito um grande esforço para manter este apoio e queremos manter em 2012”.

Fonte: Badaladas

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